Como desenvolver uma argumentação eficiente no processo da comunicação

ARGUMENTAÇÃO INFORMAL

Por Pr. Josias Moura de Menezes

Nossos compêndios e manuais de língua portuguesa não cos­tumam distinguir a dissertação da argumentação, considerando esta apenas “momentos” daquela. No entanto, uma e outra têm características próprias. Se a primeira tem como propósito prin­cipal expor ou explanar, explicar ou interpretar idéias, a segunda visa sobretudo a convencer, persuadir ou influenciar o leitor ou ouvinte.

Na dissertação, expressamos o que sabemos ou acredi­tamos saber a respeito de determinado assunto; externamos nossa opinião sobre o que é ou nos parece ser.

Na argumentação, além disso, procuramos principalmente formar a opinião do leitor ou ouvinte, tentando convencê-lo de que a razão está conosco, de que nós é que estamos de posse da verdade.

Na dissertação podemos expor, sem combater, idéias de que discordamos ou que nos são indiferentes.

Exemplo. Um professor de teologia, pode fazer uma explanação sobre o calvinismo ou o arminianismo com absoluta isenção, dando dessas doutrinas uma idéia exata, fiel, sem tentar convencer seus alunos das verdades ou falsidades numa ou noutra contidas, sem tentar formar-lhes a opinião, deixando-os, ao contrário, em inteira liberdade de se decidirem por qualquer delas. (Dissertação)

Mas, se, por ser calvinista, e fizer a respeito desta doutrina uma exposição com o propósito de influenciar seus ouvintes, de lhes formar a opinião, de convertê-los em adeptos deste sistema teológico , com o propósito, enfim, de mostrar ou provar as vantagens, a conveniência,  a  verdade, em suma, da teologia Calvinista—se assim proceder, esse professor estará argumentando. (Argumentação).

Então, Argumentar é, em última análise, convencer ou tentar convencer mediante a apresentação de razões, em face da evidência das provas e à luz de um raciocínio coerente e consistente.

1.  Condições da argumentação

A argumentação deve basear-se nos sãos princípios da lógica. Entretanto, nos debates, nas polêmicas, nas discussões que se travam a todo instante, na simples conversação, na imprensa nas assembléias ou agrupamentos de qualquer ordem, nos Parlamen­tos, em salas de aula, ou em Igrejas, a argumentação não raro se desvirtua, degenerando em bate-boca estéril, falacioso ou sofismático.

Em vez de lidar apenas com idéias, princípios ou fatos, vários oradores descambam para o insulto, xingamento, a ironia, o sarcasmo, enfim, para invectivas de toda ordem, que constituem o que se costuma chamar de argumento ad hominem (que é o ataque direto à pessoa, colocando seu caráter em dúvida).

Outros oradores revelam o propósito de expor ao ridículo ou à execração pública os que se opõem às suas idéias ou princípios, recorrendo assim ao argumento ad populum.

Ora, o insulto, as acusações desonrosas, a ironia, o sarcasmo por mais brilhantes que sejam, por mais que irritem ou perturbem o oponente, jamais constituem ar­gumentos, antes revelam a falta deles. Tampouco valem como ar­gumentos os preconceitos, as superstições ou as generalizações apressadas que se baseiam naquilo que a lógica chama, como Já vimos, juízos de simples inspeção.

A legítima argumentação, tal como deve ser entendida, não se confunde com o “bate-boca” estéril ou carregado de animosidade. Ela deve ser, ao contrário, ”construtiva na sua finalidade, coo­perativa em espírito e socialmente útil. Embora seja exato que os ignorantes discutem pelas razões mais tolas, isto não constitui motivo para que homens inteligentes se omitam em advogar idéias e projetos que valham a pena. Homens mal-intencionados dis­cutem por objetivos egoístas ou ignóbeis, mas este fato deve servir de estímulo aos homens de boa vontade para que se disponham a falar com maior freqüência e maior desassombro. O ponto de vista que considera a discussão como vazia de sentido e ausente de senso comum é não só falso, mas também perigoso, sob o ponto de vista social”(J.R. Whitaker Penteado, op.cit., p. 233).

2.  Argumentação informal

A argumentação informal está presente em quase tudo quanto dizemos ou escrevemos por força das contingências do cotidiano.

Quase toda conversa — salvo o caso, aliás freqüente, da exposição puramente narrativa ou descritiva — é essencialmente argumen­tação. Se é certo que muitas pessoas — sobretudo as mulheres — só sabem conversar “contando, narrando, descrevendo, inventan­do”, isto é, relatando episódios ou incidentes do cotidiano, revi­vendo casos ou peripécias, não é menos certo que, toda vez que, em conversa, expressamos nossa opinião sobre fatos ou idéias, esta­mos, de qualquer forma, tentando convencer aquele pequeno auditório das “rodinhas”, procurando fazê-lo aceitar nosso ponto de vista, fazê-lo, enfim, concordar conosco.

Toda argumentação consiste, em essência, numa declaração seguida de prova (fatos, razões, evidência. Vejamos estes exemplos:

Joaquim Carapuça está muito bem de vida (declaração), porque comprou um apartamento dúplex na Avenida Atlântica e passou dois anos excursionando pela Europa (razões. = Prova = evidência).

Jesus demonstra ser Deus (Declaração), porque perdoou pecados, curou enfermos, andou sobre as águas, leu pensamentos, e ressuscitou. (Razões, provas, evidências)

Mas esse tipo de argumentação informal corre freqüentemen­te o risco de ser falacioso, quando a declaração se baseia apenas em indícios.

Se digo, por exemplo: “Fulano já deve ter recebido o salário do mês porque me pagou os mil cruzeiros que me devia”, estou certo apenas quanto à declaração (ter-me pago os mil cruzeiros).

Mas posso estar errado quanto ás razões (ter recebido o salário do mês), visto ser possível terem sido outros os motivos (como ter recebido uma herança ou pedido emprestadoa dois mil cruzeiros para pagar os mil que me devia). Neste caso, houve apenas uma indução pelo raciocínio, a partir de indícios e não de fatos.

3.  Estrutura típica da argumentação informal em língua escrita ou falada

Quando a natureza da declaração implica desenvolvimento de idéias abstratas, a argumentação assume estrutura mais complexa, com uma “arquitetura” mais trabalhada. Embora seja mais co­mum na língua falada — o que talvez justifique a denominação de informal — dela nos servimos também com muita freqüência na linguagem escrita. Cremos que o conhecimento da sua estrutura pode ajudar grandemente o estudante a argumentar com segu­rança e objetividade. Vejamos um exemplo:

Suponhamos que alguém diz ser: “o castigo físico a melhor maneira de educar a criança.”

Trata-se de uma proposição argumentável, porque admite divergência. Portanto, pode-se:

  • Provar a validade dessa declaração;
  • Ou Refutá-la/ contestá-la.

O esquema de argumentação informal, constituído por três ou cinco estágios, será, portanto, de uma argumentação por contestação da proposição:

Vejamos um esboço desta estrutura de argumentação informal:

1. Proposição (Declaração, tese, opinião ou afirmativa, suficientemente definida e limitada; não deve conter em si mesma nenhum argumento, isto é, prova ou razão),

2. Análise da proposição (Definição de todos os termos da proposição para que não haja interpretações duvidosas quanto as palavras utilizadas em sua composição. Esta fase pode ser opcional em algumas circunstâncias)

3. Concordância parcial (É usada no caso da pessoa concordar com parte da proposição e discordar de parte dela. Esta é uma fase opcional)

4. Formulação dos argumentos por meio da refutação ou concordância. Aqui as Evidências são apresentadas. Esta é a parte central da argumentação

Tipos de evidências:

•  fatos;

•  exemplos;

•  ilustrações;

•  dados estatísticos;

•  testemunho.

5. Conclusão

3.1    Primeiro estágio: Proposição (declaração, tese, opinião)

A proposição, por exemplo, deve ser clara, definida, incon­fundível quanto ao que afirma ou nega. Além disso, é indispen­sável que seja… argumentável, quer dizer, não pode ser uma ver­dade universal, indiscutível, incontestável.

Não se pode argumen­tar com idéias a respeito das quais todos, absolutamente todos, es­tão de acordo. Quem discutiria a declaração ou proposição de que  o homem é mortal ou um ser vivo? Quem discutiria o valor ou a im­portância da educação na vida moderna? Se argumentar é conven­cer pela evidência, pela apresentação de razões, seria inútil tentar convencer-nos daquilo de que já estamos… convencidos.

Argu­mentação implica, assim, antes de mais nada, divergência de opinião. Isto leva a crer que as questões técnicas fogem à argumen­tação, desde que os fatos (experiências, pesquisas) já tenham provado a verdade da tese, doutrina ou princípio. Fatos não se dis­cutem.

Por outro lado, a proposição deve ser, de preferência, afir­mativa e suficientemente específica para permitir uma tomada de posição contra ou a favor.

Como argumentar a respeito de gene­ralidades tais como a previdência social, a propaganda, a de­mocracia, a caridade, a liberdade? Proposições vagas ou inespecíficas que não permitam tomada de posição só admitem dissertação, í.e. explanação ou interpretação.

Para submetê-las à argumentação é necessário delimitá-las e apresentá-las em termos de opção. Então, é possível argumentar, pois deve haver quem discorde da existência de umas ou de outras. Nesse caso, a proposição poderá configurar-se como: Porque a Previdência Social oferece (ou não) aos trabalhadores toda a assistência que dela se deve es­perar ou Deficiências da assistência médica prestada pelo Instituto X no ano tal no Estado tal. Posta em termos semelhantes, a proposição torna-se argumentável, já que admite divergências de opiniões.

Como se trata de contestar ou refutar, é evidente que a de­claração deve ser atribuída a outrem, através de uma forma verbal do tipo:

“Dizem que (ou Você diz que, Fulano declarou que, muitos acreditam que, é opinião generalizada que) só o castigo físico, a pancada, educa, só ele é realmente eficaz quando se deseja corrigir a criança, formar-lhe o caráter…

3.2    Segundo estágio: Analise da proposição

A análise da proposição, que não costuma aparecer na argumentação informal, principalmente na língua falada, constitui um estágio importante.

Antes de começar a discutir é indispensável definir com clareza o sentido da proposição ou de alguns dos seus termos a fim de evitar mal-entendidos, a fim de impedir que o debate se tome estéril ou inútil, sem possibilidade de conclusão: os opositores, por atribuírem a determinada palavra ou expressão sentido diverso, podem estar de acordo desde o início, sem o saberem. Urge, portanto, definir com precisão o sentido das palavras.

Em situações práticas e cotidianas da argumentação, geralmente a pessoa que debate não define os  termos da proposição. E migra logo para as etapas seguintes. Mas, a definição de termos elimina muitas controvérsias acerca do significado de alguns termos presentes na proposição.

Se a proposição é: “A democracia é o único regime político que respeita a liberdade do indivíduo”. Torna-se talvez necessário conceituar ou definir primeiro, pelo menos, “democracia” e “liberdade”, palavras de sentido intencional, vago, abstrato, e por isso sujeitas ao malabarismo das múltiplas interpretações.

Se a proposição for: “Deus predestina todas as coisas que acontecem na vida do homem que é limitado em seu livre arbítrio.”

Neste caso é importante definir o que é predestinação e livre arbítrio. E como estes termos são utilizados na perspectiva do orador.

Além da definição dos termos, importa que o autor ou orador defina também, logo de saída, a sua posição de maneira inequívoca, que declare, em suma, o que pretende provar.

3.3    Terceiro estágio: Concordância parcial

Na concordância parcial o autor, ou falante, reconhece que em certos casos, excepcionais, é possível que o castigo físico, seja um bom corretivo, mas — frise-se bem — só em certos casos, só em certa medida, só em condições muito especiais e, assim mesmo, em poções medicamentosas, homeo­páticas…

A concordância parcial (fique a denominação) reflete uma atitude natural do espírito em face de certas idéias ou teses, pois é incontestável que existem quase sempre “os dois lados da me­dalha”; muitas idéias admitem concordância parcial ou contes­tação parcial: basta encará-las do ponto de vista geral ou do ponto de vista particular, basta atentar em certas circunstâncias, em cer­tos fatores.

Portanto, é natural admitir que, em certos casos particulares, a correção física seja aconselhável. Na argumentação, este estágio assume usualmente, ou mesmo invariavelmente, uma feição verbal se­melhante às seguintes (de teor concessivo): “É verdade (é certo, é evidente, é indiscutível) que, em certos casos…”  “É possível que, em certos casos, você tenha razão…” “Em parte, talvez tenham razão…”.

Em seguida, juntam-se as razões, provas, casos particulares que parecem confirmar a tese, a qual mais adiante será contestada: criança muito rebelde, ineficácia de outros corretivos, reincidência provocadora, etc.

Mas, para dispormos de argumentos favoráveis á nossa tese, convém dosar bem ou restrin­gir, o número de casos excepcionais. Sem essa cautela, corremos o risco de ser contraditórios ou de oferecer as melhores razões à parte contrária. Neste caso, nossa argumentação acaba sendo um tiro pela culatra.

Entretanto, pode não haver, ou é possível que não encon­tremos, razões para uma concordância parcial; então, passamos diretamente da proposição à contestação, que é o….

3.4    Quarto estágio: Argumentação – A parte mais importante do argumento

Esse é o estágio em que o autor apresenta as provas ou razões, o suporte das suas idéias. É aí que a coerência do raciocínio mais se impõe.

O autor deve lembrar-se de que só as evidências provam (evicências no sentido mais amplo: exemplos, estatísticas, ilustrações, comparações, descrições, narrações), desde que apresentem aquelas condições de quantidade suficiente (enu­meração perfeita ou completa), fidedignidade, autenticidade, relevância e adequação.

Além disso, é de suma importância a ordem em que as provas são apresentadas:

O autor deve escolher a que melhor se ajuste à natureza da sua tese, a que seja mais capaz de impressionar o leitor ou ouvinte. Quase sempre, entretanto, ao contrário do que se faz na refutação, adota-se a ordem gradativa crescente ou climática, isto é, aquela em que se parte das provas mais frágeis para as mais fortes, mais irrefutáveis.

Outro recurso de convicção consiste em manter o leitor como que em suspense quanto às conclusões, até um ponto de saturação tal, que, várias vezes iminentes mas não declaradas, elas acabem impondo-se por si mesmas: esse é o momento de enunciá-las. Mas deve lembrar-se da paciência e da resistência da atenção do leitor para não cansá-lo nem exasperá-lo, mantendo-o por tempo de­masiado na expectativa da conclusão. Num filme de suspense, as evidências que vão sendo apresentadas produzem uma ar de expectativa quanto as conclusões finais, mas estas conclusões brotam ao fim de tais evidências.

Existem ainda outros artifícios de que o argumentador pode servir-se para convencer, para influenciar o leitor ou ouvinte.

Muitos são comuns também à dissertação: confrontos fla­grantes, comparações adequadas e elucidativas, testemunho autorizado, alusões históricas pertinentes, e até mesmo anedotas.

Por fim, cabe ainda lembrar dois outros fatores relevantes. O primeiro diz respeito à conveniência de o autor frisar, nas ocasiões oportunas, os pontos principais da sua tese, pontos que ele, sem dúvida, englobará na conclusão final, de maneira tanto quanto possível enfática, se bem que sucintamente. O segundo refere-se à necessidade de se anteciparem ou se preverem possíveis objeções do opositor ou leitor, para refutá-las a seu tempo.

A argumentação será realizada por dois métodos:

  • Contestação/refutação. É para o caso quando vamos discordar da tese que foi apresentada.
  • Concordância. Usado no caso em que concordamos com a tese apresentada.

Aqui também a forma verbal assume feição típica; quase sem­pre—já que se trata de opor aos argumentos favoráveis preceden­tes, ou à proposição toda, outros, contrários — o período ou pa­rágrafo, ou o trecho da fala na língua oral, que lhe correspondam, se iniciam com uma conjunção adversativa ou expressão equivalen­te:

Como fazer a argumentação de forma Consistente

A argumentação esteia-se em dois elementos principais: a consistência do raciocínio e a evidência das provas.

Evidência das provas = fatos, exemplos, dados estatísticos, testemunhos

Evidência — considerada por Descartes como o critério da verdade — é a certeza manifesta, a certeza a que se chega pelo raciocínio (evidência de razão) ou pela apresentação dos fatos (evidência de fato), independentemente de toda teoria.

São cinco os tipos mais comuns de evidência: os fatos pro­priamente ditos, os exemplos, as ilustrações, os dados estatísticos (tabelas, números, mapas, etc.) e o testemunho.

  • Fatos:

Os fatos — termo de sentido muito amplo, com que se costuma até mesmo designar toda a evidência — constituem o elemento mais importante da argumentação em particular assim como da dissertação ou explanação de idéias em geral.

Temos dito mais de uma vez que só os fatos provam, só eles convencem.

Mas nem todos os fatos são irrefutáveis; seu valor de prova é relativo, sujeitos como estão à evolução da ciência, da téc­nica e dos próprios conceitos ou preconceitos de vida: o que era verdade ontem pode não o ser hoje. De forma que é indispensável levar em conta essa relatividade para que eles sejam convincentes, funcionem realmente como prova.

Um exemplo de como fatos podem ser provas de valor relativo em determinadas circunstâncias, é que o sorriso de uma pessoa pode ser um interpretado como um gesto de simpatia por um amigo, mas pode ser também tido como um ato de sarcasmo por um desafeto.

Os fatos evidentes ou notórios são os que mais provam. Provo a deficiência da previdência social, citando o fato de contribuintes se verem forçados a recorrer a hospitais particulares para ope­rações ou tratamentos de urgência, porque o instituto de previdên­cia a que pertencem não os pode atender em condições satisfa­tórias.

  • Exemplos:

Exemplos são fatos típicos ou representativos de determinada situação. O fato de o Professor Fulano de Tal se ver na contingência de dar, em colégios particulares, dez ou mais aulas diárias é um exemplo típico dos sacrifícios a que estão sujeitos os membros do magistério particular no Brasil.

  • Ilustrações:

Quando o exemplo se alonga em narrativa detalhada e entremeada de descrições, tem-se a ilustração. Há duas espécies de ilustração: a hipotética e a real. A primeira, como o nome o diz, é invenção, é hipótese: narra o que poderia acontecer ou provavelmente acontecerá em determinadas circunstâncias. Mas, nem por ser imaginária, prescinde da condição de verossi­milhança e de consistência, para não falar da adequação à idéia que se defende.

Ilustração hipotética Ilustração real

A parábolas.

Jesus curando um coxo.

A introdução da ilustração no corpo da argumentação faz-se com na­turalidade, com o objetivo de ilustrar a tese que está sendo defendida. Suponhamos que um pregador esteja argumentando sobre a importância da fé. Ele pode recorrer a inúmeras ilustrações que estão nas escrituras para defender o princípio da fé que esta sendo exposto ao seu auditório.

O propósito principal da ilustração hipotética ou real é tornar mais viva e mais impressiva uma argumentação sobre temas abstratos. Porém, deve-se ter algum cuidado com as ilustrações hipotéticas, evitando-se aquelas que são extragantes demais.

A ilustração é um recurso de valor didático incontestável capaz de, por si só, tornar mais clara, mais convincente, uma tese ou opi­nião. Entretanto, seu valor como prova é muito relativo, e, em cer­tos casos, até mesmo duvidoso.

A ilustração real descreve ou narra em detalhes um fato ver­dadeiro. Mais eficaz, mais persuasiva do que a hipotética, ela vale por si mesma como prova.

O que se espera da ilustração real é que, de fato, sustente, apóie ou justifique, determinada declaração. Para isso, é preciso que seja clara, objetiva, sintomática e obviamente relacionada com a proposição. Sua feição dramática deve ser tanto quanto possível explorada, desde que o exagero não a transforme em dramalhão.

Muitas vezes, a ilustração se faz por referência a episódios históricos ou a obras de ficção (romances-tese, romances de protesto, peças dramáticas de conteúdo social), cujo enredo se pode então ligeiramente resumir.

  • Dados estatísticos:

Dados estatísticos são também fatos, mas fatos específicos. Têm grande valor de convicção, constituindo quase sempre prova ou evidência incontestável.

Entretanto, é preciso ter cautela na sua apresentação ou manipulação, já que sua validade é também muito relativa: com os mesmos dados estatís­ticos tanto se pode provar como refutar a mesma tese.

Pode ser falsa ou verdadeira a afirmação: “O pastor fulano tem  o apoio de 80 pessoas em seu pastorado, por isso deve ficar”. Digamos que esta igreja tem 100 membros, então 80 pessoas representam 80% da vontade desta Igreja em apoiar seu pastor. Assim, a afirmação é verdadeira. Mas, suponhamos que está igreja tem 10.000 membros. Então 80 pessoas representam menos de 1% desta Igreja. Logo, a afirmação é falsa por falta de apoio dos dados estatísticos.

Do mesmo modo pode ser fal­sa ou verdadeira a conclusão de que o ensino fundamental no Brasil é muito deficiente, porque este ano, só no Rio de Janeiro, foram reprovados, digamos, 3.000 candidatos às escolas supe­riores.

Três mil candidatos é, aparentemente, uma cifra respei­tável. Mas, quantos foram, no total, os candidatos? Se foram cerca de 6.000, a percentagem de reprovação, com que se pretende provar a deficiência do nosso ensino médio, é de 50%, índice real­mente lastimável. Mas, se foram 30.000 os candidatos? A percen­tagem de reprovados passa a ser apenas de 10%, o que não é grave, antes pelo contrário, é sinal de excelente resultado. Portanto, com os mesmos dados estatísticos, posso chegar a conclusões opostas.

  • Testemunho:

O testemunho é ou pode ser o fato trazido à colação por intermédio de terceiros. Se autorizado ou fidedigno, seu valor de prova é inegável.

Os autores bíblicos, por exemplo, recorrem a evidencia testemunhar, quando defendem temas como a ressureição de Cristo.

Entretanto, sua eficácia é também relativa. Têm-se feito experiências para provar como o testemunho pode ser falho (refiro-me, evidentemente, ao testemunho “visual”, e não ao “autorizado”): O mesmo fato presenciado por várias pes­soas pode assumir proporções e versões mais diversas.

Entretan­to, apesar das suas falhas ou vícios, o testemunho” continua a merecer fé até mesmo nos tribunais. Sua presença na argumen­tação em geral constitui, assim, desde que fidedigno ou autori­zado, valioso elemento de prova.

E se formos refutar uma tese em vez de apoiá-la?  Normas ou sugestões para refutar argumentos

Ao optar nesta fase argumentativa pela refutação de argumentos, o orador deve observar alguns critérios que farão esta tarefa ser mais eficiente.

Whitaker Penteado, na sua excelente obra já citada, arrola al­gumas sugestões para refutar idéias ou argumentos. Depois de dizer que a maneira de contestar argumentos depende de fatores pessoais e de circunstâncias várias, o Autor apresenta-nos as se­guintes sugestões:

  • Procure refutar o argumento que lhe pareça mais forte. Comece por ele.
  • Procure atacar os pontos fracos da argumentação contrária.
  • Utilize a técnica de “redução às últimas conseqüências”, levan­do os argumentos contrários ao máximo de sua extensão.
  • Veja se o opositor apresentou uma evidência adequada ao ar­gumento empregado.
  • Escolha uma autoridade que tenha dito exatamente o contrário do que afirma o seu opositor.
  • Aceite os fatos, mas demonstre que foram mal empregados. Ataque a fonte na qual se basearam os argumentos do seu opositor.
  • Cite outros exemplos semelhantes, que provem exatamente o contrário dos argumentos que lhe são apresentados pelo opo­sitor.
  • Demonstre que a citação feita pelo opositor foi deturpada, com a omissão de palavras ou de toda a sentença que diria o con­trário do que quis dizer o opositor.
  • Analise cuidadosamente os argumentos contrários, dissecan­do-os para revelar as falsidades que contêm.”

3.5    Quinto estágio: Conclusão

Não existe argumentação sem conclusão, que decorre natural­mente das provas ou argumentos apresentados. As principais par­tículas típicas da conclusão são, como se sabe, “logo”, “portanto”, “por conseqüência” e, até mesmo, “de forma que”. Tais partículas encabeçam períodos ou parágrafos em que negamos (argumen­tação por refutação) ou confirmamos o teor da proposição:

“Logo (por conseqüência, portanto, de forma que não se devem espancar as crianças…”

Muitas vezes, principalmente na língua falada, a argumen­tação é provocada por uma situação real (fato, incidente); no caso do castigo físico, por exemplo, um pai que espanca o filho diante de nós, ou que defende em conversa a conveniência da pancada. Nesses casos, é comum reportar-se a conclusão à situação que a críou:

“Portanto, não acho que você deva espancar seu filho como acaba de fazer…”

Na língua escrita, esse tipo de argumentação pode reduzir-se a um simples parágrafo (correspondente na oral a uma só fala não interrompida pelo interlocutor), ou a vários deles, tudo dependen­do da maior ou menor complexidade das idéias postas em discus­são. No primeiro caso, a proposição será verdadeiramente o tópico frasal, e os demais estágios, o desenvolvimento. Entretanto, a com­plexidade do assunto, o teor da proposição, pode exigir, como acontece com mais freqüência, maior número de parágrafos: quatro pelo menos, um para cada estágio. Muitas argumentações alongam-se por várias páginas.

Essa é a estrutura típica da argumentação informal, tanto na língua falada quanto na escrita. Em alguns casos, ela se faz por contestação ou refutação, com ou sem concordância parcial, quan­do se procura negar tese ou opinião alheia; em outros, por confir­mação.

4.  Em suma o Esboço do Plano-padrão da argumentação informal constitui-se pelas seguintes etapas:

4.1    Proposição (Declaração, tese, opinião ou afirmativa, suficientemente definida e limitada; não deve conter em si mesma nenhum argumento, isto é, prova ou razão),

4.2    Análise da proposição (Definição de todos os termos da proposição para que não haja interpretações duvidosas quanto as palavras utilizadas em sua composição.

4.3    Concordância parcial (É usada no caso da pessoa concordar com parte da proposição e discordar de parte dela. Esta é uma fase opcional)

4.4    Formulação dos argumentos por meio da refutação ou comprovação Aqui as Evidências são apresentadas. Esta é a parte central da argumentação

Tipos de evidências:

  • fatos;
  • exemplos;
  • ilustrações;
  • dados estatísticos;
  • testemunho.

4.5    Conclusão

Nota:

Referindo-se ao sermão, que é, em essência, argumentação, já dizia o padre Antônio Vieira, em 1655, no seu conhecido Sermão da Sexagésima: “Há de tomar o pregador uma só matéria, há de defini-la para que se conheça, há de dividi-la para que se distinga, há de prová-la com a Escritura, há de declará-la com a razão, há de confirmá-la com o exemplo, há de amplificá-la com as causas, com os efeitos, com as circunstâncias, com as conveniências que se hão de seguir, com os inconvenientes que se devem evitar; há de responder às dúvidas, há de satisfazer as dificuldades, há de impugnar e refutar com toda a força da eloqüência os argumentos contrários, e depois disso há de colher, há de apertar, há de concluir, há de persuadir, há de acabar.”

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